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OS (MEUS) SUPER HERÓIS

Que criam marcas de propósito na era digital


Quando era pequena passava muitas horas dentro de água. Costumava ouvir que um dia iriam nascer barbatanas entre os dedos. Na verdade, era um vaticínio que eu desejava. Na altura o meu herói era o Homem da Atlântida e o filme favorito, o Splash.


Nem barbatanas, nem guelras, nem escamas. Rapidamente percebi que respirar debaixo de água só com muitos quilos em cima de equipamento e um curso de mergulho.


Nos tempos de hoje começam a surgir teorias sobre como o corpo humano se vai transformar nesta era digital, resultado das horas que passamos em frente aos ecrãs do computador ou telemóvel. Desde polegares aumentados a uma curvatura acentuada no pescoço, até um possível aumento da massa cerebral. Imagino as pessoas do futuro como imagino extraterrestres.


Gosto de imaginar cenários, não de os antecipar, que já aprendi que isso só cria ansiedade, mas imaginar para onde vamos como resultado do que vivemos hoje, das decisões que tomamos diariamente neste contexto muito disruptivo.


Faz parte do meu trabalho. Há uns anos que vou lendo estudos de grandes consultoras sobre a digitalização e a inteligência artificial e o que mudará no mundo.


Está tudo em aberto. Mas é certo que os pilares do novo modelo de desenvolvimento já não são os mesmos do modelo que surge com a Revolução Industrial.


A Revolução é outra e nós estamos no meio dela. Sorte ou azar? Como sempre gostei de estudar estes momentos na história, acho que é uma sorte.


Podemos assistir na bancada ou ir a jogo. Ficar na areia ou mergulhar.


Há dois meses a Mckinsey publicava novo estudo sobre o futuro do trabalho na era digital, desta vez o futuro depois da Covid-19: “The future of Work after Covid-19”. De há uns anos a esta parte, esta consultora tem-se dedicado ao tema e agora vem demonstrar como as transformações aceleraram profundamente com a pandemia. O estudo aborda os temas do futuro do trabalho, o comportamento do consumidor e as oportunidades de recuperação económica lideradas pelo aumento da produtividade, resultado do desenvolvimento tecnológico.


Estes estudos têm para mim enorme importância pois estão a ser desenvolvidos pelas consultoras que trabalham com os grandes motores da mudança. Considero importante olhar para estes cenários para que possamos tomar decisões mais informadas, percebendo as oportunidades e ameaças do contexto e quais as fragilidades e fortalezas que apresentamos perante elas.


A tradicional análise SWOT que considero tão importante no trabalho que desenvolvo em conjunto com quem quer dar início a um projeto ou quer alterar o seu posicionamento.


Logo no início do estudo da Mckinsey, no sumário executivo, encontramos muitas projeções que nos impelem a uma reflexão profunda.


Vejamos apenas estes três pontos:


1. O trabalho remoto veio para ficar. Irá implicar uma redução de movimento nos grandes centros urbanos e necessidades de resposta na área da restauração, comércio de rua e transportes. Por oposição alguma destas áreas poderão crescer fora dos grandes centros, em cidades mais pequenas.


2. Comércio online continuará a substituir o tradicional. Cresceu exponencialmente durante o período de pandemia. Quem tinha algumas resistências, deixou de as ter, integrando a compra online no seu dia-a-dia. Esta tendência fará crescer as atividades ligadas à logística de distribuição (economia da entrega).


3. Crescente investimento na automação e inteligência artificial dos processos de produção com robots a substituírem a mão de obra humana. Processo que já estava em curso e que, mais uma vez, a pandemia acelerou. Sobre este ponto o estudo refere que: “As transições no mercado laboral podem ser maiores em escala do que estimamos antes da pandemia, e a taxa de empregabilidade em empregos de baixa remuneração pode diminuir.” Dependendo do ponto de desenvolvimento das economias, os cenários da Mckinsey sugerem que mais de 100 milhões de trabalhadores podem ter que mudar de ocupações em 2030, 12 por cento de aumento face ao antecipado antes do vírus nas economias menos desenvolvidas e até 25 por cento mais, nas economias avançadas. Os mais afetados serão os trabalhadores sem curso superior, mulheres, minorias étnicas e jovens. A empregabilidade em ocupações de baixa remuneração pode diminuir até 2030, pela primeira vez, por oposição às ocupações de salários elevados em setores como o da saúde e das profissões nas áreas da ciência, tecnologia, engenharia e matemática, que se continuarão a expandir.


São tendências que trabalho com todos quantos me pedem para pensar ou repensar as suas atividades. Os (meus) heróis do século XXI.


Ainda que o estudo faça referência às oportunidades de crescimento que estas tendências encerram, os heróis que decidem criar uma empresa ou uma organização na transição atravessam desafios acrescidos.


Podemos imaginar que, podendo trabalhar à distância, podemos viver fora dos centros urbanos com mais qualidade de vida. E que com processos de trabalho mais automatizados irá sobrar tempo para disfrutar a vida.


Podemos. Mas os heróis de hoje sabem que não dá para fechar os olhos e abrir com um novo mundo criado.


Têm que criar, com novas regras, com novas ferramentas, muitas vezes a acumular funções que noutros tempos correspondiam a várias profissões. Os empreendedores do século XXI têm uma atividade core e depois paralelamente são marketeers digitais, designers, fotógrafos e muitas vezes ainda tratam da logística de entregas do que produzem. Porque há muitas ferramentas, no entanto, os processos ainda não estão automatizados.


Talvez por isso, neste processo a acompanhar estes novos empreendedores, tenha encontrado uma rede de entreajuda de partilha de experiências, contactos, ferramentas, conhecimento. Neste contexto, há muitos empreendedores a trocarem serviços e a crescer em conjunto, cada um com a sua atividade a trabalhar de forma colaborativa. E eu tenho a sorte de fazer parte dele.


Nem tudo são rosas, todos sabemos.


O roseiral é um lugar bonito, perfumado e com espinhos. Ter noção do contexto e das tendências através de estudos, como aquele que partilho aqui, pode ajudar a evitar os espinhos. Porquê? Porque nos permite começar sempre por olhar para a comunidade onde vamos criar ou para quem vamos direcionar a nossa resposta. Quem são? Quais são as suas necessidades e de que forma a minha atividade pode dar resposta às mesmas? Como criar soluções para problemas existentes? As suas necessidades estão alinhadas com o meu propósito?


Todos os dias conheço novos heróis, personagens reais do novo mundo, que sabem que é preciso mergulhar e perceber que mesmo que estejam a dar origem a uma microempresa, as decisões que tomam diariamente têm impacto nas suas vidas, como nas vidas de quem os rodeia. E, por consequência, têm impacto a nível macro.


Se o impacto que procuramos é positivo, façamos então marketing de propósito.


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