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MARKETING E PROPÓSITO EM TEMPO DE GUERRA

Estamos mais uma vez perante a incerteza

Há dois anos, precisamente nesta altura, decidia deixar de ver notícias, afastar-me do ruído para poder criar.


Escrevi na altura na minha página pessoal do Facebook sob o título “Retira-se por três dias” que “Os noticiários vão continuar a vender o bicho, a morte e a desgraça. Os Adamastores vão continuar a sair incólumes evitando ao máximo que se passe o cabo da existência moribunda. Mas eu vejo o Índico do outro lado e quero juntar gentes criativas que queiram desenhar o roteiro até lá”.


E foi assim que, em plena ebulição, a ideia concretizou-se e se espalhou como um vírus. Com o meu Marketing de Propósito reuni muita gente em torno do meu e seu propósitos e eis que, passado dois anos, estamos de novo a enfrentar coletivamente enormes desafios. Possivelmente, o maior da nossa história recente.


Voltei agora a sentir a necessidade de me recolher e refletir sobre o que se passa. Voltei a sentir que preciso me distanciar das notícias para perceber o que sou chamada a fazer.


Não há muito tempo, quando apresentava a análise SWOT a uma multinacional e fazia referência à ameaça de uma crise com contornos de grande imprevisibilidade a resposta foi “Clara, não se preocupe, com ou sem crise o nosso mercado não muda”. Aquela afirmação ficou registada até hoje. Pensei naquele momento: a história já nos mostrou e há de nos mostrar que uma crise mundial, sobretudo num contexto de interdependência global em que vivemos, impacta e impactará todos.


Bastará neste momento fazer referência à inflação. Não sou economista nem historiadora. São dois temas que gosto muito e me mobilizam a ler e a procurar informação. Procuro várias perspetivas, dado que a ideologia, sobretudo aquela com a qual nos identificamos, muitas vezes condiciona a nossa leitura da realidade. Leio economistas e historiadores com visões antagónicas à minha e que me obrigam a refletir e a olhar para o assunto de várias formas. Porque a economia como a história são ciências sociais e transportam sempre a interpretação de quem as escreve.


A inflação é o resultado de uma série de políticas em curso há muitos anos. Iria acontecer mais cedo ou mais tarde. E estava em curso antes do início da invasão da Ucrânia. Os preços da energia estão a aumentar de forma galopante. Juntamos a isto o conflito na Ucrânia, as sanções económicas como forma de pressionar a Rússia a retroceder e temos um cocktail Molotov a rebentar nas mãos de todos nós.


E o que tem isto a ver com marketing e propósito?


Os instrumentos de comunicação, como nos mostra a história, são inventados primeiramente com fins militares e só depois são explorados comercialmente pela sociedade civil. Estudamos na faculdade que as Ciências da Comunicação de hoje têm a sua génese na Segunda Guerra Mundial, com a Propaganda. Falamos de propaganda como uma técnica ao serviço dos que estão do lado mau da história. Mas ela anda por cá desde sempre e andará. Esteve muito presente na fase de luta contra a Pandemia Covid-19 e está a estará na fase de conflito que assistimos.


Há boa e má propaganda? Não, a propaganda é uma técnica e pretende mobilizar-nos em torno de algo. Cada lado do conflito usa-a para mobilizar recursos para o seu lado da barricada.


É meu propósito, neste momento, que tenhamos isto muito presente, porque no meio disto estão as vítimas inocentes: os que estão no meio do conflito, os refugiados e todos quantos somos e seremos impactados com o que se está a passar. E quanto a isto, terminando o conflito da forma mais rápida ou mais longa, todos estamos e vamos sofrer as consequências.


Neste momento vemos as imagens da Guerra, de pais que se despedem da família, de mulheres e crianças a fugirem de suas casas sem nada. Choramos porque cada um de nós se vê em cada uma daquelas pessoas. Somos nós que estamos ali.


E mobilizamo-nos de todas as formas possíveis: reunindo bens essenciais, acolhendo famílias e viajando até aos países vizinhos da Ucrânia para ir buscar refugiados.


Tenho falado com muitas pessoas e todos estamos a tentar perceber qual o nosso papel perante esta realidade. Dizia ontem a quem partilhava comigo ter-se voluntariado para acolher uma família, da vontade e dos receios que isso lhe suscitava: revejo-me em todos esses medos e sugeri que não os julgasse. Acredito que a forma como vamos cumprir o nosso #propósito neste momento surgirá de forma natural, estejamos nós disponíveis para tal. Toda a ação é precisa. Nenhuma é mais corajosa que outra.


O que espero e peço, porque sou crente, é que perante o impacto das dificuldades que todos vamos sentir nas nossas vidas económica e socialmente, não nos fechemos e fechemos as portas ao outro. Porque pode faltar o básico e nós não sabemos o que é isso. Nós demos por adquirido ter uma casa, frigorífico cheio, a última coleção de moda da loja que gostamos e passeios e viagens como bolhas de oxigénio da rotina de trabalho intenso a que nos habituámos.


E se faltar o básico para nós e os nossos filhos, vamos ser capazes de manter o acolhimento?


Não podemos não falar disto neste momento. Porque agora no nosso conforto todos estamos a ajudar. Depois teremos que mostrar que o que alcançámos nas últimas décadas fez de nós coletivamente uma sociedade mais humana e com o #propósito de garantir que todos temos direito e acesso a uma vida digna, com liberdade e paz.


Nota: imagem antes e depois publicada hoje no Público em https://www.publico.pt/2022/03/10/p3/noticia/imagens-destruicao-ucrania-invasao-russa-1998070


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